Além de tecnologias que aumentem a produtividade por hectare, dar incentivos ao produtor pode ser uma eficiente saída para reduzir problemas ambientais
Os impactos ambientais têm sido tema de diversos encontros e fóruns mundiais. É preciso estimular a conscientização e adotar medidas que diminuam esses impactos. Um dos problemas enfrentados pelo país no que diz respeito ao meio rural é o desmatamento. Para diminuir esse problema, diversas ações podem ser tomadas. “Desmatamento zero: como lucrar” é um dos temas do Fórum Contexto Ambiental & Agronegócio, organizado pelo Portal Dia de Campo, no dia 30 de junho, em Uberlândia, Minas Gerais. Segundo John Landers, agrônomo e diretor honorário da Associação Plantio Direto do Cerrado (APDC), para diminuir o índice de desmatamento no país, é preciso implementar produtividade em áreas desmatadas.
— Existem várias tecnologias para a intensificação do uso da terra. Mas o mais eficaz, em termos de clima e da redução de gases estufa, são as tecnologias recentes de Integração Lavoura-Pecuária (ILP) e Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF). O segundo capta muito mais carbono do solo, mas a ILP também capta bastante. Existem sistemas que captam mais de 2 toneladas de carbono por hectare ao ano. Esse sequestro de carbono pode contribuir para o cumprimento das metas do Brasil para Kyoto — afirma o diretor.
De acordo com ele, o investimento em tecnologias capazes de reduzir o impacto ambiental pode ser caro, mas tudo depende do retorno para o homem do campo. Para isso, existe também o fornecimento de crédito que ainda não está saindo muito bem quando o assunto é a ILP.
— A renovação de pastagens, por exemplo, é a chave para reduzir a pressão da pecuária sobre a Floresta Amazônica. Temos que absorver o crescimento da pecuária dentro das pastagens atuais, que são bastante degradadas. Hoje, tem-se uma média menor que 1,0 UA/ha (UA corresponde à unidade animal e é igual a 450Kg), enquanto que poderíamos triplicar ou mais essa lotação — diz.
Para Landers, o problema não reside em apresentar tecnologias aos pecuaristas para renovação e manejo de pastagens renovadas. Ele sugere uma doação de fosfato para quem planta lavouras em áreas de pastagem degradada ou comum. Assim, ele conta que seria possível aumentar a carga animal e, ao mesmo tempo, sequestrar carbono.
— Nos últimos anos, desde a inserção do plantio direto, os agricultores têm contribuído com o valor de US$2,2 bilhões anuais em redução de impactos ambientais e não recebem um tostão por isso. Além disso, não recebem pela obrigação de manter áreas de reserva nas suas fazendas. Isso não é uma imposição dos demais países concorrentes em produção de soja. Portanto, o mundo não reconhece essa grande contribuição do produtor brasileiro para a preservação da vegetação nativa — fala.
Pagar para preservar
Para que as medidas de preservação sejam eficazes, o agrônomo explica que seria necessário realizar uma transferência de valores em termos de pagamentos de serviços ambientais do consumidor para o produtor rural. Ele afirma que, se essa medida tivesse sido implantada há cinco anos, não teríamos tido todo um debate sobre o código florestal brasileiro. Mas, de acordo com ele, o público ainda não aceita o princípio de pagar para preservar.
— Além da contribuição em redução dos impactos por parte dos produtores, o custo médio dos alimentos tem reduzido por 1,2% ao ano. Isso também é uma contribuição do produtor rural para o bem estar da nação, o que também não é reconhecido. Portanto, o problema do produtor é que o mercado é mais eficiente do que ele. Qualquer ganho que ele tenha em produtividade, o mercado toma em pouco tempo através da redução de preços — conta.
Para chegar ao fim do desmatamento, o Brasil ainda precisa passar por algumas barreiras. Segundo Landers, em primeiro lugar, a ilegalidade e a falta de governança na Região Amazônica prejudica muito a imagem brasileira perante as outras nações.
— Temos que entender que toda região de fronteira no mundo sofreu um período inicial de falta da lei. Isso não é novidade, mas está acontecendo na Amazônia e está criando manchetes nos jornais, o que é usado para denegrir a imagem geral do produtor rural brasileiro. Isso é injusto, pois o público só quer taxar o agricultor de vilão e não quer ver que ele é a chave do desmatamento zero. Realmente, precisamos mudar a imagem do produtor brasileiro. Ele precisa ser visto como aliado número um da conservação. Ele precisa ser tratado com “cenoura” e não com “chicote”. A partir daí, podemos ir para a frente — conclui.
Kamila Pitombeira (Portal Dia de Campo)
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