quinta-feira, 23 de junho de 2011

Pagar para preservar: chave do desmatamento zero

Além de tecnologias que aumentem a produtividade por hectare, dar incentivos ao produtor pode ser uma eficiente saída para reduzir problemas ambientais 



Os impactos ambientais têm sido tema de diversos encontros e fóruns mundiais. É preciso estimular a conscientização e adotar medidas que diminuam esses impactos. Um dos problemas enfrentados pelo país no que diz respeito ao meio rural é o desmatamento. Para diminuir esse problema, diversas ações podem ser tomadas. “Desmatamento zero: como lucrar” é um dos temas do Fórum Contexto Ambiental & Agronegócio, organizado pelo Portal Dia de Campo, no dia 30 de junho, em Uberlândia, Minas Gerais. Segundo John Landers, agrônomo e diretor honorário da Associação Plantio Direto do Cerrado (APDC), para diminuir o índice de desmatamento no país, é preciso implementar produtividade em áreas desmatadas.
— Existem várias tecnologias para a intensificação do uso da terra. Mas o mais eficaz, em termos de clima e da redução de gases estufa, são as tecnologias recentes de Integração Lavoura-Pecuária (ILP) e Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF). O segundo capta muito mais carbono do solo, mas a ILP também capta bastante. Existem sistemas que captam mais de 2 toneladas de carbono por hectare ao ano. Esse sequestro de carbono pode contribuir para o cumprimento das metas do Brasil para Kyoto — afirma o diretor.
De acordo com ele, o investimento em tecnologias capazes de reduzir o impacto ambiental pode ser caro, mas tudo depende do retorno para o homem do campo. Para isso, existe também o fornecimento de crédito que ainda não está saindo muito bem quando o assunto é a ILP.
— A renovação de pastagens, por exemplo, é a chave para reduzir a pressão da pecuária sobre a Floresta Amazônica. Temos que absorver o crescimento da pecuária dentro das pastagens atuais, que são bastante degradadas. Hoje, tem-se uma média menor que 1,0 UA/ha (UA corresponde à unidade animal e é igual a 450Kg), enquanto que poderíamos triplicar ou mais essa lotação — diz.
Para Landers, o problema não reside em apresentar tecnologias aos pecuaristas para renovação e manejo de pastagens renovadas. Ele sugere uma doação de fosfato para quem planta lavouras em áreas de pastagem degradada ou comum. Assim, ele conta que seria possível aumentar a carga animal e, ao mesmo tempo, sequestrar carbono.
— Nos últimos anos, desde a inserção do plantio direto, os agricultores têm contribuído com o valor de US$2,2 bilhões anuais em redução de impactos ambientais e não recebem um tostão por isso. Além disso, não recebem pela obrigação de manter áreas de reserva nas suas fazendas. Isso não é uma imposição dos demais países concorrentes em produção de soja. Portanto, o mundo não reconhece essa grande contribuição do produtor brasileiro para a preservação da vegetação nativa — fala.

Pagar para preservar

Para que as medidas de preservação sejam eficazes, o agrônomo explica que seria necessário realizar uma transferência de valores em termos de pagamentos de serviços ambientais do consumidor para o produtor rural. Ele afirma que, se essa medida tivesse sido implantada há cinco anos, não teríamos tido todo um debate sobre o código florestal brasileiro. Mas, de acordo com ele, o público ainda não aceita o princípio de pagar para preservar.
— Além da contribuição em redução dos impactos por parte dos produtores, o custo médio dos alimentos tem reduzido por 1,2% ao ano. Isso também é uma contribuição do produtor rural para o bem estar da nação, o que também não é reconhecido. Portanto, o problema do produtor é que o mercado é mais eficiente do que ele. Qualquer ganho que ele tenha em produtividade, o mercado toma em pouco tempo através da redução de preços — conta.
Para chegar ao fim do desmatamento, o Brasil ainda precisa passar por algumas barreiras. Segundo Landers, em primeiro lugar, a ilegalidade e a falta de governança na Região Amazônica prejudica muito a imagem brasileira perante as outras nações.
— Temos que entender que toda região de fronteira no mundo sofreu um período inicial de falta da lei. Isso não é novidade, mas está acontecendo na Amazônia e está criando manchetes nos jornais, o que é usado para denegrir a imagem geral do produtor rural brasileiro. Isso é injusto, pois o público só quer taxar o agricultor de vilão e não quer ver que ele é a chave do desmatamento zero. Realmente, precisamos mudar a imagem do produtor brasileiro. Ele precisa ser visto como aliado número um da conservação. Ele precisa ser tratado com “cenoura” e não com “chicote”. A partir daí, podemos ir para a frente — conclui.

Kamila Pitombeira (Portal Dia de Campo)

quarta-feira, 22 de junho de 2011

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Leira estática recebe mais cargas de resíduos

Sistema de compostagem não necessita de revolvimento, tem baixo custo de implantação e pode receber detritos a cada dois dias 


Capaz de receber cargas de resíduos a cada dois ou três dias, diferentemente de outros sistemas de compostagem, a leira estática, de formato perpendicular, conta com baixo custo, baixa necessidade de revolvimento e menor necessidade de uso de maquinário. Segundo Caio Teves, pesquisador da Embrapa Solos, para o processo ocorrer sem problemas, como mau cheiro ou proliferação de moscas, algumas regras precisam ser seguidas.
— Uma delas é a largura, pois a leira não pode ser muito larga. Além disso, como principal delas, a leira deve ser bastante porosa, ou seja, com bastante material estruturante, como poda de árvores picada, grama e outros materiais vegetais para compor com restos de alimentos e esterco — orienta o pesquisador.
Existem ainda outros detalhes. De acordo com ele, a leira deve ser construída com a parte lateral reta, quase perpendicular ao solo, o que facilita a aeração passiva. Isso porque o processo de compostagem é aeróbico, portanto, precisa que o ar circule dentro da leira sem grandes impedimentos. Por ter o formato perpendicular, ela permite que o produtor coloque sempre novas cargas de resíduos.
— Existem vários métodos de compostagem. O mais comum deles é o chamado método de revolvimento. Nesse sistema, os revolvimentos são frequentes e acontecem uma vez por semana ou uma vez a cada 15 dias. Mas esse é um método que tem algumas restrições em termos de eficiência. Quando os resíduos incluem restos de comida, o revolvimento não é muito indicado porque, quando o material está decompondo, o melhor é não mexer na leira devido ao mau cheiro que isso pode causar. Por outro lado, é um bom método se lidar apenas com materiais de poda e resíduos agrícolas — afirma Teves.
O método de leira estática com aeração forçada é aquele no qual o produtor pode fazer a leira com dimensões maiores. Esse método conta com aeradores elétricos injetando ar dentro dessa leira. Existe um outro método, mais sofisticado segundo o pesquisador, que é o biorreator fechado. Esse sistema necessita de mais tecnologia e permite maior controle, além de tem um custo maior de implantação e de controle.
— Os benefícios ao usar a leira estática são muitos. Esse processo tem baixo custo, menos revolvimento, menor necessidade de uso de maquinário e disponibilidade de receber cargas de resíduos a cada dois ou três dias — conta.
Já em relação aos cuidados de manejo, Teves ressalta que o principal deles é prestar atenção à porosidade da leira. O produtor, para ele, deve se preocupar com a estrutura da leira e usar materiais de decomposição um pouco mais lenta misturados aos materiais de decomposição um pouco mais rápida.
— A gente tem conseguido tratar restos de alimentos, resíduos de animais e, em alguns casos, até carcaças de animais. Então, esse é um método que se adapta a vários tipos de resíduos em várias situações. É um método semi-artesanal que não exige equipamentos especiais, ou seja, quaisquer ferramentas normais de uma propriedade agrícola poderão ser usadas nessa compostagem — explica.
                                  
                                                                                              Kalima Pitombeira (Portal Dia do Campo)